domingo, 1 de maio de 2016

Até a ideia ser só uma brisa gelada

O mundo pousa duramente no seu peito. Respirar dói. Cansa. Fatiga. Consulta mais uma vez o celular. Não há mensagem dele. Não sei por que espero. Elas não virão. Ele não virá. Sente-se de novo no olho do furacão, o mesmo em que entra e sai há anos. Queria ser forte. Queria poder gritar bem alto que parasse, que nunca mais voltasse. Queria correr, correr, correr até a ideia ser só uma brisa gelada que talvez brinque levemente com seus cabelos ou roce suas pernas cansadas de chegar à beira do mar, do outro lado do mundo.

Sentaria na areia branca e empedrada. Afundaria as mãos para sentir o cascalho e e tentar criar raízes ali. Virar árvore. Grande. Firme. Longa de alcançar o céu. Aqui, olhando o infinito se fundir. Longe. Tão longe que não seria possível ver mais nada.Tão longe que não haveria memória. Tão longe que não haveria você. O mar azul avançaria cauteloso e, sem se importar com a decisão de ficar, umedeceria as bambas raízes fincadas na areia e só a envolveria em azul.

Sem as raízes que acharia que teria. Sem o infinito absoluto que a deixaria respirar às vezes, mas a lembraria que ele ainda poderia vir. O vento mais forte que sacudiria seus galhos a faria saber que ele ainda existe.Porém, ela já seria anil, entre gotas e estrelas.Tentando se livrar da dor. Do medo. Da casca. Não há raízes no negro infinito abaixo. Não há asas para o firmamento que se desenharia muito acima. Fechada em sua própria bolha. À deriva das correntes. O mínimo movimento a sufocaria. Perdida na imensidão. Solta no  meio do abismo.

Um suspiro mais forte. Ainda não há mensagem. Não haverá mais. O mundo se enraíza no seu peito e ela se dilui em seu próprio oceano.