sexta-feira, 20 de junho de 2014

Na fronteira para outro mundo



Ela vem a passos firmes e rápidos. Embora pouca as sinta, são as pernas que sabem o caminho. A cabeça o desconhece. O calor do bafo do leão ainda está no seu pescoço. É preciso andar cada vez mais rápido. Mais rápido. Rápido, moça. Ele vai alcançá-la. Suas pegadas ficam marcadas no caminho, porém seus pés quase não tocam o chão. É preciso chegar. Aos poucos, o ar fica mais leve e o mato alto lhe arranha as pernas nuas. Já está chegando. Seu peito pode sentir.A adrenalina rotineira lhe trouxe até aqui. A fronteira para outro mundo.

As estrelas vigiam de longe, Marte também está lá. Há esperança de que ela sobreviva a mais esse dia. As corujas observam a visitante. O que busca aqui todo fim de tarde? Olha para o céu. As nuvens vermelhas na noite clara a angustiam e enchem de coragem. A um passo da vida. A um passo da mudança. Este mundo não a pertence. A cada dia a certeza se intensifica. Quer ir além. Quer os caminhos que ninguém percorreu. Prefere as pedras ao asfalto.Vira-se para frente. Elas estão lá. Elas sempre estão lá. As portas para outra dimensão.

Ao abri-las poderá sentir a brisa do aconchego. Tirará finalmente os sapatos. Uniforme e status de um povo que não a representa. Os pés tocarão de leve o chão. Gosta de senti-los aos poucos tomando a forma própria, é a possibilidade de SER longe da opressão de TER. O frio e a conexão lhe subirão pelas panturrilhas e lhe chegarão ao estômago.  Anseia pelo momento em que o ar mágico gradualmente lhe preencherá a alma e os pulmões. Já sente a paz que emana através da porta.

É necessário se desconectar desse mundo que não a reconhece. Mas o celular vibrando no bolso não colabora. Ela quer sair e ainda lhe pulsam quase dentro de seu corpo. Desliga o aparelho. Não quer ser localizada agora. Solta os cabelos.A sensação de liberdade começa a ganhar vida.

 A lua vermelha lhe tinge a pele que assume a coloração natural. O vento assovia uma canção em seu ouvido. Assopra uma mecha avermelhada em seu rosto. Um movimento mecânico limpa sua face e reorganiza a madeixas. Mas isso não tem mais importância. Sua imagem ficará aqui. O mundo para suspenso. Não há mais movimento. Não há mais sons. O relógio perde o sentido.

Silêncio. Só o bater do coração marca o momento. Mais um passo. Uma chuva de sensações. Mais um instante. Abre as portas e entra dentro de si.


5 comentários:

  1. Que lindo Laura,desconhecia essa sua habilidade.
    Parabens!!!!

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    1. Linda, é interessante como cada um vê apenas uma face de nós.
      Você me conheceu dançando Zouk em Ribeirão... Acompanha também meu lado professora-questionadora pelo Facebook... Assim, meu lado de brincadeiras com as palavras te surpreende.
      Já, para meus alunos, a surpresa seria me encontrar rodopiando ao som do Forró ou Zouk ou Samba ou Bolero rsrs
      Fico feliz que tenha gostado!
      Bjos

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  2. Laura, obrigado por compartilhar essas ideías. Tuas palavras inflamaram a alma.

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    1. Jack
      Fico feliz que tenha lido meu texto! E principalmente que ele tenha lhe tocado de alguma forma.
      Eu agradeço por você compartilhar as suas ideias e fazer o mundo girar!
      As fadas estão por aí, buscando o seu lugar, como eu, como você! Creio que foram elas que me provocaram para produzir...
      Bj

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  3. Micro conto escrito depois da leitura do texto El Retorno de Las Hadas de Jack Duarte.
    Vale a leitura.
    http://hilvanandoarena.wordpress.com/2014/06/19/el-retorno-de-las-hadas/

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