Ela fecha os olhos. Atravessa as nuvens que suspendem os campos e ligam o chão verde brilhante ao céu cinza claro. Não consegue distinguir nada além de forma mal delineadas. Mais uns poucos passos. O mundo se abre diferente. Ele está lá. Há quanto tempo? Não importa. Ele continua igual, os mesmos olhos castanhos e doces, a barba por fazer, os braços compridos, o sorriso enorme. Estava lá. Não podia negar. Seus olhos tinham certeza. Sua mão. Sua boca.
"O que você fez hoje?" é a pergunta de sempre, enquanto os braços a envolviam e ela podia finalmente sentir a segurança de ter chegado onde precisava chegar. Ele ouve falar dos filhos, do chefe, da mãe, das brigas entre a família. Seus dedos fortes e longos penetram no cabelo dela, desmancham os cachos, denunciam sua presença, deixa seus pelos em ponta. O sorriso de todos os dentes inquebrável e eterno. O calor de seu corpo se sente por todos os poros.
Onde ele esteve por tanto tempo? Durante alguns momentos as dúvidas do passado passeiam por sua mente. Afinal por que ele havia feito aquilo? Por que se afastara sem explicação? A angústia apertava o peito, quase sente o mundo a tragar de novo, mas logo a dúvida é espantada para longe. Ele está ali, nunca saiu de verdade. Ao seu lado. Descobrindo-a. Encantando-a. O ar gelado da janela aberta lhe percorre a espinha. Sabe que está andando sobre gelo fino. Mas seus cabelos fartos e grossos. Sua boca rosada. Seu peito macio. Não poderia arriscar. Quanto tempo teria ainda?
Aconchega-se no seu peito, seu braço a envolve com carinho e determinação. Aninha-se ainda mais. O tic-tac do relógio podia se ouvido claramente agora, mistura-se com as batidas do seu coração na boca do estômago.Ela se recusa a escutar. Pouco pode ser feito. O barulho denuncia o tempo que passou.
Um último beijo. Uma última carícia. Um último olhar. O doce dos olhos, a agressividade da barba, os braços acolhedores vão sumindo na névoa que em um momento surge de repente e o abraça para longe. A lágrima escorre pelo rosto, colando os cachos desmanchados na face desfigurada.
Abre os olhos. O mundo se fecha no habitual.
terça-feira, 28 de abril de 2009
sexta-feira, 10 de abril de 2009
A farsa
O corpo todo treme, pode sentir o estômago parado, congelante. Há quanto tempo não sentia isso? O mundo parou por um minuto. As árvores estáticas. O vento pausado. Os pássaros paralisados em pleno voo. O coração suspenso na boca do estômago. Gostava da sensação. Gostava do medo, mas não da situação. Não o conhecia. Na realidade, ela estava começando a se conhecer agora. Seu corpo. Seus próprios toques. Seus gostos. Tudo era novo para ela. Estranho depois de tanto tempo.
Adolescente chamava a atenção mais pela empáfia do que pela beleza, apesar dos olhos, não de ressaca mas amendoados e fortes, e dos cabelos, sempre soltos secos ao vento. As calças rasgadas e as camisetas surradas. Não se preocupava com isso. Teve os seus momentos entre os 15 e 18 anos, quem não é bonito aos 18 anos? Hoje sabe que talvez tenha cometido muitos erros no passado, deveria ter olhado com mais atenção, havia um gesto, um sorriso, um abraço perdido em algum período remoto que deveriam ter sido vistos, mas ganância adolescente ocultou. Quando? Ela não sabia quem era.
Mas, agora? A vida já não havia passado? Olhos carregavam as marcas do cansaço sem perder o amendoado que os deixavam um pouco doce, o cabelo cacheado desmanchou-se sozinho com o tempo e falta de cuidado. Suas roupas envelheceram antes que ela. Seu bonde da história estava há muito perdido.
O que ele poderia ver nela? As marcas da vida que escolheu? A pose de forte que ainda carregava? Não haviam mais os cachos. Não havia mais a silhueta delicada. Não havia mais a maciez da juventude.
Ele a idolatrava, ela podia ver nos olhos dele. As palavras eram escolhidas com cuidado entre os momentos de gagueira. As mãos dele, ásperas, rudes e fortes, não sabiam onde ficar enquanto a boca tentava falar algo minimamente coerente. O cenário a deixava orgulhosa e ao mesmo tempo amedrontada.
A fantasia a deixou despida no meio da rua. A farsa não poderia continuar.
Fez o que faz de melhor.
Fugiu
Adolescente chamava a atenção mais pela empáfia do que pela beleza, apesar dos olhos, não de ressaca mas amendoados e fortes, e dos cabelos, sempre soltos secos ao vento. As calças rasgadas e as camisetas surradas. Não se preocupava com isso. Teve os seus momentos entre os 15 e 18 anos, quem não é bonito aos 18 anos? Hoje sabe que talvez tenha cometido muitos erros no passado, deveria ter olhado com mais atenção, havia um gesto, um sorriso, um abraço perdido em algum período remoto que deveriam ter sido vistos, mas ganância adolescente ocultou. Quando? Ela não sabia quem era.
Mas, agora? A vida já não havia passado? Olhos carregavam as marcas do cansaço sem perder o amendoado que os deixavam um pouco doce, o cabelo cacheado desmanchou-se sozinho com o tempo e falta de cuidado. Suas roupas envelheceram antes que ela. Seu bonde da história estava há muito perdido.
O que ele poderia ver nela? As marcas da vida que escolheu? A pose de forte que ainda carregava? Não haviam mais os cachos. Não havia mais a silhueta delicada. Não havia mais a maciez da juventude.
Ele a idolatrava, ela podia ver nos olhos dele. As palavras eram escolhidas com cuidado entre os momentos de gagueira. As mãos dele, ásperas, rudes e fortes, não sabiam onde ficar enquanto a boca tentava falar algo minimamente coerente. O cenário a deixava orgulhosa e ao mesmo tempo amedrontada.
A fantasia a deixou despida no meio da rua. A farsa não poderia continuar.
Fez o que faz de melhor.
Fugiu
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Pensamos
Tenho que pensar
Como nós pensamos
Mas as palavras já entraram na minha cabeça...
Grafismos sem sentido
Perambulado
Sorrateiros
Pelo consciente
Ideogramas
Alfabetos
Trauma
Quando meu filho era pequeno era somente uma incógnita
(hoje, o que ele é?)
Quem entende o que vê?
X, Y, Z, @, α e β
Organizam o mundo
E se o organismo não se adapta entre a assimilação e a organização?
Como nós pensamos
Mas as palavras já entraram na minha cabeça...
Grafismos sem sentido
Perambulado
Sorrateiros
Pelo consciente
Ideogramas
Alfabetos
Trauma
Quando meu filho era pequeno era somente uma incógnita
(hoje, o que ele é?)
Quem entende o que vê?
X, Y, Z, @, α e β
Organizam o mundo
E se o organismo não se adapta entre a assimilação e a organização?
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