quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ele já está lá. Pálido transparente, elegantemente vestido com uma camiseta de um vermelho vinho e calça cáqui. Sentado no canto quase escondido no salão quase vazio da sessão de embarque do aeroporto. Ele não percebe a minha presença. Ele não percebe as poucas pessoas que circulam presas ali.  Tem os olhos fixos na parede oposta e longínqua. Os braços cruzados, mãos sob as axilas. Pernas esticadas, pés também cruzados.
Minha conexão de duas horas me encurralou aqui junto a ele. Mas ele está só. Não me vê aqui. Não vê ninguém aqui.O que o trouxe? O que o prende? Os olhos castanhos e vazios me incomodam.  O que veem naquela parede vazia?
Talvez veja seu futuro de daqui a pouco, onde estará quando seu avião partir e chegar. De qualquer modo não parece um lugar muito agradável. Seu rosto é nulo de sensações.
Os outros passageiros em aguardo parecem não notá-lo. Estão todos encolhidos em seus mundos paralelos dentro de celulares, tablets e livros. Mas eu vejo ele esconder seu rosto inexpressivo em suas mãos. Os dedos longos e brancos quase se escondem nos cabelos castanho avermelhado curto. Todo certinho. Cabelo curto. Roupa alinhada bem passada. Rosto nulo.

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