segunda-feira, 28 de julho de 2014
Sinais de fogo
Há sinal de fogo
seu olhar como faísca
queima alma árida
sonhos secos
na vida inóspita
Há sinal de incêndio
sua presença acionou o alarme
o corpo todo em desassossego
coração intranquilo
em ritmo de samba
Há sinal de fumaça
todos percebem o sucedido
a áurea transcende
marca minha vida
minha história
os rios não poderão levar
Energia nuclear
não creio que irá se apagar
domingo, 27 de julho de 2014
Manhã de inverno
O dia amanhece com preguiça de acordar
Cascata gelada pela torneira
Mãos não querem se mexer
Nem a dança do café pela casa muda colabora
Passos arrastados
Preguiça em murmúrio, quase uma cantiga de ninar
Grama coberta por nuvens pesadas
Pássaros quietos se arvoredam
Tilintar do gelo sendo água
Pele rígida cortada pelo Minuano
Sol há muito escondido no horizonte
A vida começa
branco, azul, amarelo e rosa
e, ainda assim, não quer acordar
quarta-feira, 23 de julho de 2014
A vida na tarde de inverno
O vento rosa cantava devagar, dançando com as folhas, sujando as roupas, que ela acabara de estender no varal, e pintava seus pés descalços. O céu com nuvens baunilha estava parado em um retrato. Devia ter uns 30 anos, talvez menos, talvez mais, o corpo ainda guardava a mocidade, mas, o rosto, o sol, o trabalho e a vida vincaram profundamente. Trazia o vestido cavado branco amarelado amarrado na altura das coxas. As pernas sustentavam o mundo.
Ela buscou o ar do alto em uma brisa ligeira, seca e sutilmente fria, que lhe navalhou a face, mas deu um suspiro de sossego à alma. Tinha que ir. Seu corpo não respondeu. Sabia que deveria correr. Possuía consciência de que não tinha tempo. Naquele instante, lembrou-se menina e de sua madrinha na cadeira de balanço depois do almoço na varanda "Luiza, a vida é uma estrada muito movimentada que corre para um só lado. Se paras, serás massacrada, menina! Avia!!" Assim, a menina correu, correu, correu pela vida. Mas ela será atropelada. E ela não se mexia.
As folhas secas saltavam das árvores. Esta foi a última chuva que veria. A vida perdeu-se nesse momento. As roupas bailavam com o vento e os galhos nus. Era uma orquestra com folhas, calangos e saguis. A maritaca intrometida quis participar da festa.
Luiza não conseguia respirar. O mundo equilibrado em uma corda bamba. A panela no fogo. A faca suja de legumes na pia. O ar suspenso em poeira terrosa. A risada do menino lá longe. Ela só quis respirar.
O sangue tinto manchou a cena branca. O cheiro de ferrugem lhe feriu o nariz. A louça da pia gritou por ela da janela da cozinha. Mancha de sangue é tão difícil de sair. O sol se escondeu por medo ou por vergonha. Os olhos quase vazios quase castalhos de Luiza buscaram uma resposta. O céu estava calado. A boca estava seca. Havia tanto o que fazer. A casa ainda lhe chamou mais uma vez. Os olhos de Luiza enxutos não conseguiram encontrá-la. Estavam ocos. O vermelho escorreu pelo vestido, misturou-se com a terra e a levou. Depois de todo o corpo seco, suas pernas finalmente sucumbiram.
O mundo de Luiza rolou pela terra árida daquela tarde de inverno.
domingo, 20 de julho de 2014
Sob o céu vivo em azul
O vento frio sai de seus ossos
lhe rasgando por dentro
cortando a pele seca
A falta de ar
põe uma bola de ferro sobre o peito
quer gritar
não há voz
quer chorar
não há água
Os passos são nulos
sobre o pasto seco
indo a lugar algum
não há mais cidade por perto
não há mais quem possa socorrê-la
está morrendo sufocada em campo aberto
O céu vivo em azul
pousa em sua cabeça
Não tem forças para levantar-se
suas pernas a ignoram
o vento toca por seus ouvidos
não quer escutar
seu coração pula pela boca
não consegue respirar
na garganta seca
não há flores
Estica os braços
procura as estrelas
fecha os olhos
quer o calor
sozinha
quer a eternidade
esquecida
Dentro, encontra o caos
quer o silêncio
quer a ausência da dor
quer a paz do universo
Em seu corpo
já não há resposta
está seca
no pasto seco
na noite clara
sem luar
com o firmamento todo a lhe apertar o peito
quinta-feira, 17 de julho de 2014
Pede permissão para se levantar da mesa do jantar. A mãe consente com a cabeça. Ele pula no chão, calça seus chinelos e corre para o quarto. Da janela vê as esperadas luzes novas. Além das companheiras estrelas e da lua viajante e das luzes eternamente amarelas da cidade lá longe, agora ele vê umas luzes coloridas intermitentes. O desenho não deixa dúvidas. É um circo. É igualzinho ao que ilustra aquele livro velho guardado com tanto carinho embaixo do travesseiro.
Veio se deitar antes de todos, quer esse momento só para ele, apagou as luzes do quarto, abriu a janela e ficou esperando a vida acontecer além dos pastos. Quer as luzes coloridas bailando com as corujas que cismam em piar e o galo desparafusado que não sabe que já é quase meia noite. Com algum esforço pode escutar as palmas, o riso, a plat´´eia segurando o folêndo diante do trapézio.
Veio se deitar antes de todos, quer esse momento só para ele, apagou as luzes do quarto, abriu a janela e ficou esperando a vida acontecer além dos pastos. Quer as luzes coloridas bailando com as corujas que cismam em piar e o galo desparafusado que não sabe que já é quase meia noite. Com algum esforço pode escutar as palmas, o riso, a plat´´eia segurando o folêndo diante do trapézio.
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Carta de despedida
Poeminha de despedida para uma turma que insanamente me escolheu para Paraninfa depois de quatro anos de estudo de literatura no ensino fundamental II.
Hoje dedico a todos meus alunos que de alguma maneira participaram das loucuras das minhas aulas de livro.
Entre a Pérsia e Troia
Cresceram Sherazade e suas histórias intermináveis.
A seu convite, navegamos nelas
Com nossos barquinhos de imaginação.
Em nossas viagens,
Conhecemos Paris, Londres e até o País das Maravilhas.
Nos juntamos à trupe de Cyrano, Alice, Quixote e Arthur
Para duelar contra os feiticeiros de De Guiche
e os moinhos de vento comandados por Lady Macbeth.
As crianças perdidas
Que chegaram numa segunda chuvosa
Caíram no buraco do coelho
E amanheceram homens no navio de Gulliver.
A impaciente Máquina do Tempo trouxe todos
Direto de 1984 para hoje.
Nos despedimos essa noite de vocês
Mas deixamos que levem consigo
Robinson, Sansa e Agilulfo
E nenhuma ilha será mais totalmente deserta às sextas-feiras.
Que Atena e o Bardo lhes acompanhem sempre.
Professora Laura Sparvoli
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Lua cheia
Noite cheia
Lua clara
Caminhos iluminados
Rotas definidas
E eu sigo em paz
Sob o firmamento desestrelado
Apesar dos desafios escondidos
Nas sombras marginais
quarta-feira, 9 de julho de 2014
Amormar
Amor mar
indeciso
aqui
ali
sem
ponto
sem
final
Amor azul
canino
quer
carinho
lambe
os pés
quer
toque
busca
atenção
Amor ressaca
céu cinza
leva
sonhos
carrega
a alma
inunda
o mundo
para
nunca mais
Às vezes
Amor brisa
vem do mar
incessante
devagar
corta
a pele
molda
a alma
marca
profunda
sentimento
eterno
Amormar
aqui
vinco
cravado
castelo montado
ali
emareado
muro invadido
concha perdida
A onda
veio
levou o mundo
e se foi
sem olhar para trás
Ele já está lá. Pálido transparente, elegantemente vestido com uma camiseta de um vermelho vinho e calça cáqui. Sentado no canto quase escondido no salão quase vazio da sessão de embarque do aeroporto. Ele não percebe a minha presença. Ele não percebe as poucas pessoas que circulam presas ali. Tem os olhos fixos na parede oposta e longínqua. Os braços cruzados, mãos sob as axilas. Pernas esticadas, pés também cruzados.
Minha conexão de duas horas me encurralou aqui junto a ele. Mas ele está só. Não me vê aqui. Não vê ninguém aqui.O que o trouxe? O que o prende? Os olhos castanhos e vazios me incomodam. O que veem naquela parede vazia?
Talvez veja seu futuro de daqui a pouco, onde estará quando seu avião partir e chegar. De qualquer modo não parece um lugar muito agradável. Seu rosto é nulo de sensações.
Os outros passageiros em aguardo parecem não notá-lo. Estão todos encolhidos em seus mundos paralelos dentro de celulares, tablets e livros. Mas eu vejo ele esconder seu rosto inexpressivo em suas mãos. Os dedos longos e brancos quase se escondem nos cabelos castanho avermelhado curto. Todo certinho. Cabelo curto. Roupa alinhada bem passada. Rosto nulo.
Minha conexão de duas horas me encurralou aqui junto a ele. Mas ele está só. Não me vê aqui. Não vê ninguém aqui.O que o trouxe? O que o prende? Os olhos castanhos e vazios me incomodam. O que veem naquela parede vazia?
Talvez veja seu futuro de daqui a pouco, onde estará quando seu avião partir e chegar. De qualquer modo não parece um lugar muito agradável. Seu rosto é nulo de sensações.
Os outros passageiros em aguardo parecem não notá-lo. Estão todos encolhidos em seus mundos paralelos dentro de celulares, tablets e livros. Mas eu vejo ele esconder seu rosto inexpressivo em suas mãos. Os dedos longos e brancos quase se escondem nos cabelos castanho avermelhado curto. Todo certinho. Cabelo curto. Roupa alinhada bem passada. Rosto nulo.
domingo, 6 de julho de 2014
sábado, 5 de julho de 2014
Mar
Azul esverdeado
Ou
Verde azulado?
Infinito
Mundão de água
Lambendo a areia
Pontilhada de conchinhas
Brancas
Amarelas
Rosas
Indesisas
O vento sibilando
A antiga canção das fadas
A água tocando
O chocalho de contas
Vem
Nao vem
Tem
Nao tem
Vai
Fica mais
Mais
Mais
Mar sem fim
Lá do outro lado
Existe alguém
Que pensa em mim?
quinta-feira, 3 de julho de 2014
O mar
O coração amarrado com linha e anzol
A vida seguindo a linha das ondas
O mar lambe os pés
A cabeça mal se sustenta
O zumbido no ouvido amplifica o mantra das ondas
"Pode. Não deve
Não pode. Deve"
O azul infinito
Sem manchas
Sem
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