sábado, 12 de dezembro de 2009

No Império do Silêncio

As mãos acariciam os cabelos, desmancham os cachos displicentes. Ela dorme, mas se arrepia. O corpo se movimenta lentamente, procura, sonolento, se acomodar à nova situação. Entretanto a mão não para, passeia agora entre os cabelos revoltos na cama e as costas. Ele acha graça na cena. Isso não parece afetar muito o sono dela.
Ledo engano.
Sua boca procura a nuca. O sonho lentamente vai se misturando com a realidade. As imagens chegam difusas. A figura dos olhos dele contribui para aumentar a confusão. O hálito quente em sua boca a desperta de vez. Ao alcance de suas mãos está o rosto, o peito, os braços, o corpo há pouco sonhado.
Não há palavras, não há barulho. No império do silêncio se desenvolvem os sonhos comunicados pelo olhar.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Numa cidade

Uma vez
você me disse
que numa cidade
ali
existe alguém
que me observa
que se atrai
que me atende

e que me disse
que numa cidade
de lá
existia alguém
que me ouvia
que me valorizava
que me admirava

e que me disse
que numa cidade
distante
existiu alguém
que me percebeu
que se interessou
que me viu

e que me disse
que numa cidade
em algum lugar
existiria alguém
que me veria
que me escutaria
que se importaria

e que uma vez
me diria....

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Volúvel

Meu corpo é 70% líquido

Minha alma é 100% água

é a água da tempestade
destrói tudo
varre muros e asfaltos
arranca árvores e carrega carros
para a vida de todos

é a água que evapora
e vaporosa forma nuvens lânguidas
vapor em todas as partes
em todos os lados
em todos os poros

é a água dos rios
fura pedras
se esconde em cavernas
se refaz
e surge de novo
vitoriosa

é a água da garoa
chora de mansinho
faz surgir um pequeno arco-íris
mas mal se sente a sua presença

é a água da piscina
represada
presa
servil
mas fatal

é a água da lágrima
corre pelo rosto inocente da criança
que logo a esquece
vai brincar

é a água do corpo
suado e moído pela força do trabalho
explorada
vendida

é a água da saliva
beijo apaixonado
esperado
totalmente entregue
totalmente vida

Minha alma é volúvel
Minha alma abraça o mundo

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Subjuntivo

Se
Na certeza de não sentir
Tivesse forças
Para ir
Sair
Em paz
Com meus pensamentos...

Mas há dúvida
Entre servir
Ou partir.

Espero.

Meus sonhos
Em acalento.

Talvez a paciência
E um pouco de paz
Façam meu coração ferido
Pulsar novamente
No ritmo certo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

no abismo

Não sei se vou
Ou se fico

A mão pega a caneta
E sobre o papel limpo
Solta o lápis

Os dedos correm sobre o teclado
O monitor em branco denuncia
Silêncio

As mãos
Os olhos
O coração
O corpo todo
Apenas espera

Não há voz
Nem aqui
Nem lá

Não vou
Não fico

Permaneço ausente
No abismo
Entre o nada
E o lugar nenhum.

sábado, 31 de outubro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

Abusivo

Quanto você vale?

Já lhe dei meu tempo
meu amor
minha atenção
meu latim

você me quis mais
pediu compreensão
pediu paciência
pediu tolerância.

Não sei não
mas acho que o valor já está abusivo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Marca

Acordei hoje
Sem saber se foi ilusão ou verdade

Meu corpo denuncia a sua presença
Tenho ainda
Seu braço marcado na minha mão
Seu cheiro no meu pescoço
Seu gosto na minha boca
Sua voz no meu ouvido
Sua pele na minha pele

Mas tenho poucas lembranças
Uma promessa vaga
Um pedido sussurrado
Um beijo mais demorado

Você foi

E me deixou completa.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Súplica Riopretense


Música
Súplica cearense
O Rappa
Composição: Luiz Gonzaga
Mas as imagens são de Rio Preto, dia 7 de outubro de 2009.....


Oh!Deus, perdoe esse pobre coitado,
que de joelhos rezou um bocado,
pedindo pra chuva cair, cair sem parar.
Oh! Deus será que o senhor se zangou,
e é só por isso que o sol se arretirou,
fazendo cair toda chuva que há .
Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover, mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta, uma planta no chão.
Oh! Meu Deus,
se eu não rezei direito,
a culpa é do sujeito,
desse pobre que nem sabe fazer a oração.
Meu Deus, perdoe encher meus olhos d'água,
e ter-lhe pedido cheio de mágoa,
pro sol inclemente, se arretirar, retirar.
Desculpe, pedir a toda hora,
pra chegar o inverno
e agora, o inferno queima o meu humilde Ceará.
Oh! Senhor,
pedi pro sol se esconder um pouquinho,
pedi pra chover, mas chover de mansinho,
pra ver se nascia uma planta, planta no chão.
Violência demais, chuva não tem mais, corrupção demais, política demais, tristeza demais. O interesse tem demais!
Violência demais, fome demais, falta demais, promessa demais, seca demais, chuva não tem mais!
Lá no céu demais, chuva tem, tem, tem, não tem, não pode tem, é demais.
Pobreza demais, como tem demais!
Falta demais, é demais, chuva não tem mais, seca demais, roubo demais, povo sofre demais.
Oh! demais.
Oh! Deus.
Oh! Deus. Só se tiver Deus. Oh! Deus.
Oh! fome. Oh! interesse demais, falta demais...!


Despertar

Ela abre a janela, respira o ar gelado que deveria ajudar a despertar.
O sol ainda preguiçoso recusa-se a acordar. Mas é dia. Dia cinza. Sabe que é necessário sair. O relógio toca pela segunda vez. Vai se atrasar.
O cheiro do orvalho, da grama, da terra. Ela não quer. Deita mais uma vez. Quer o calor da cama e o acalento dos sonhos. A luz fraca lhe acaricia o rosto. A hora de levantar já passou há muito. Não há mais como prolongar o calor da cama e das cobertas. Levanta
O sangue devagar corre por todo o corpo. Pode senti-lo nos pés. A bruma branca brinca sobre o verde molhado. O corpo caminha devagar.
No espelho, o rosto desconhecido e sonolento. Água corre pela torneira. O tempo passa, ela precisa ir. Por quê? Para onde?
No espelho procura a resposta. Há quanto tempo?
O coração se aperta. Não sabe. Não sabe mais. Procura no passado, não encontra. Aquela paixão pelo imediato passou. O futuro lhe parece uma grande incógnita. Para quê? Pergunta ainda mais uma vez para os olhos vazios que lhe fitam.
A Aurora tinge o dia cinza com seus dedos rosas delicados.
Ela não consegue se mexer. E as respostas? O modo automático não funciona mais. Precisa de outro meio.
As mãos cheias de água alagam o rosto. Uma, duas, três vezes. Aos poucos os olhos vidrados voltam à vida. A paz ameaça retornar suavemente ao peito. Ela se troca e sai. Sem olhar para trás.

Asas

Asas de um anjo
Bateram tão forte na minha alma
Que a levaram pra longe



______________de mim

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

I want a black

(baseado na musica Black is beautiful de Elis Regina)
I want a black
suas mãos
seu rosto
seu cheiro

I want a black
suas histórias
seus ideais
sua força

I want a black
sua paixão
seu amor
sua raiva

I want a black
como Zumbi
como Orfeu
como Otelo

I want a black
para ser meu
I want a beautiful

Primavera

Lá fora, flores desabrocham
Em amarelo, rosa, azul
Aqui dentro, chove cinza em mim

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Antropofagia

Suavemente
ela devora
seus amores
seus sonhos
seus pensamentos
suas lembranças



até restar


sua pessoa

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Queria

Queria andar
Com os pés descalços
Na praia
Sentir o gelo da água
O calor da areia
O vento soprando no meu rosto
Avançando sobre meus pensamentos.

Queria mergulhar
No mar
Andar até não sentir mais
O chão sob meus pés
Sentir meu corpo
Solto
Seguro
Instável
Envolto nas águas que me abraçam e me acalmam.

Queria ir
Para uma ilha
Sem o tempo que marca o seu passo sem parar
Sozinha com minhas lembranças
Perdida no horizonte do azul sem fim.

Queria poder
Perder os sonhos
Em que me perdi.

domingo, 6 de setembro de 2009

Nunca ou Sempre

Sinto falta do que nunca tive

Sinto saudades
da boca que nunca beijei
das mãos que nunca me tocaram
dos braços onde nunca que encostei
do rosto que minhas mãos nunca alcançaram
das palavras que vieram de longe

Sinto falta da realidade que eu sonhei para mim.

Venha

Segure a minha mão e me leve por caminhos desconhecidos. Sei que as vezes posso parar e relutar em seguir por que o medo percorre as minhas veias e me congela os passos.
Olhe nos meus olhos e me dê a segurança que preciso para enfrentar o novo. Veja dentro de mim e se encontrará aqui. Você já ocupou meus pensamentos, bagunçando toda a razão existente no meu coração que era tão gelado e hoje pulsa quente quase não cabendo no meu peito desacostumado.

sábado, 22 de agosto de 2009

Se ventasse, meu corpo, minha alma e meus pensamentos voariam pelo céu em busca de um refúgio calmo onde pudessem se reintegrar e deixar de ser o pó a que foram reduzidos depois da queda.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O Salto

Olha para baixo, a altura a deixa zonza, dá uma passo para trás, mas o vento refresca seu rosto, bagunça seus cabelos e a convida para o pulo.
Ela resiste, ainda carrega na pele a lembrança da última queda. As cicatrizes estão ali. O salto não parece uma opção, volta-se e pela primeira vez visualiza a floresta pedrificada onde esteve presa por tanto tempo. Suas pernas doem. O sol bate em seu rosto. Depois de tanto tempo no breu, no meio das pedras úmidas, a luz a incomoda. Pensa em voltar, lá não haveria quedas nem hematomas a serem tratados, só alguns espinhos que ela já conseguia remover sem maiores dores.
Mas a luz esquenta seu corpo, entra na sua pele. Olha novamente para o precipício. O céu está azul, como há muito não via. O vento lhe sussurra palavras doces que lhe refrescam a alma. Só mais um passo e já sente o chão começar a ceder sob seus pés descalços.
O vento a abraça e a chama. Ela deseja. Mas quem a segurará no fim do salto? O vento mexe em seus cabelos e a arrepia. Sente seus pés ainda darem um último passo. O vento a envolve. O medo acabou.

domingo, 2 de agosto de 2009

Beijo

Ele se aproxima devagar, não há como ter certeza do que vai acontecer agora. O curto espaço que os separa será vencido rapidamente. Suas mãos suam gelado. Traz a bolsa segura pela alça. Precisava ter alguma coisa na mão para disfarçar o medo. Entretanto a bolsa não parece colaborar. Ela está com medo. O sentimento visivelmente está no modo como ela mexe os pés, movimenta o cabelo, arruma a blusa e tenta parecer descontraída. Sem sucesso. Olha para trás. Procura o portão por onde entrou. Ele continua lá com suas duas folhas de ferro enormes escancaradas. Pelo vão, pode-se ver o céu anil com algumas nuvens de algodão. Ela respira aliviada. Firma seus pés no chão. Olha para ele.
Já pode ser visto sem esforço, ele está muito mais perto agora. Pode reparar em seu rosto. Vem sorrindo. Sorriso doce, tímido, de canto de boca.Realmente é um homem lindo. Traz a mochila nas costas. Parece que fugiu de casa. Seus olhos doces encontram os olhos assustados dela. O sorriso ilumina seu rosto. Segura firme a alça da mochila. Caminha decidido em direção a ela. Olhar fixo e doce. Pensamentos vagando nos sonhos que teve durante a viagem.
Poucos passos os separam agora, depois de tanto tempo de espera.
Ela segura sua bolsa com força. Olha uma última vez para a porta. O céu está cor de baunilha. Chovem folhas na rua. O vento faz todo mundo procurar abrigo. Ela volta-se para ele. Ele está lá. O sorriso. Os olhos. Não há mais como fugir. Ela não consegue se mexer. Com esforço estende a mão e lhe toca o rosto. Precisava saber se era verdade.
Sente sua respiração. Seu coração. Perde-se nos olhos dele. O mundo para naquele instante, afogado naqueles olhos.
Ele a abraça pela cintura. As mãos dele procuram os cabelos dela. Sonhava com esse cheiro. Não havia palavras a serem ditas. Chove. As pessoas correm. Para aqueles dois nada disso importa. Os olhos agora procuram as bocas. Não há mais ninguém aqui.

domingo, 12 de julho de 2009

acaso

O coração palpita. As mãos suam, geladas. A cabeça tornou-se uma tempestade de pensamentos. Não perdia o controle da situação desde a adolescência. E agora estava ali, bancando a adolescente, se sentindo a adolescente. O que aconteceria? Qual seria o próximo passo? Questões sempre debatidas e solucionadas antes de andar para qualquer lado. Antes de decidir o rumo que daria a sua vida.
Agora está nas mãos do acaso. A falta de controle a angustia. De repente tem uma vontade de sair correndo, seus pés procuram o caminho. A hesitação entre o racional e o emocional lhe gelam a alma. Sabe que deve fugir, mas só consegue andar uns passos em direção a saída, o resto do corpo não obedece. Não há saída. Não há como fugir.
A porta está ali, não pode parar de olhar para ela, a saída está aberta. Mas seus pés não se movimentam. Seu corpo não aceita ordens. Sua cabeça vai explodir.
O tempo passa sem parar, o relógio da torre bate. Que horas são? Não consegue descobrir. Seus olhos veem mas não enxergam.
Seu coração bate no pescoço. Ânsia. O mundo infla, as coisas tomam proporções absurdas. Onde estaria o seu juízo?
Os acontecimentos imediatos montam-se e desmontam-se na sua mente, tal como um jogo de Lego. Quantas são as possibilidades? Não há como contar. Não há como saber.
Olha mais uma vez a saída, está mais perto, é quase palpável. Não há como saber. O mundo desajustado. Os relâmpagos em sua mente. O coração lhe toma o corpo todo. Não há como saber.
A vida toda na agenda passa por sua cabeça em tempestade.
O gelo na alma. A saída. O coração. Que horas são? Será que ainda há tempo para alcançar a saída? O relógio se nega a lhe informar o tempo.
O sino novamente. O tempo de fugir acabou. A saída se afasta lentamente. O mundo desconhecido se abre colorido para ela.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

devagar

Ela olha para os lados, o que houve? Todos andam em câmera lenta, a vida está funcionando devagar.
De repente todos os seus pensamentos tem um só foco. A luta para se livrar dessa situação é consentante e nula. Sua imaginação assume vida própria, paralisando o seu corpo e a sua percepção.
A luz caminha sorrateiramente pela sala denunciando que o tempo passa sem parar. Mas, em sua volta, tudo é incensivél a isso e continua a sua trajetória no ritmo que ela impôs, devagar.
Quem mexeu em seu mundo? Em uns breves momentos, sente saudades do turbilhão de pensamentos que sempre lhe povoavam a alma. Não havia processamento, os movimentos sempre mecânicos e iguais, mas a estabilidade era confortável.
Agora essa angústia, o medo do novo e do desconhecido lhe gelam por dentro. O inesperado lhe tira o chão e em um momento não ha mais onde se agarrar. Ela perdeu o controle.
Solta, sem a confortável rotina, segue vendo o mundo passar colorido e devagar por ela

sexta-feira, 26 de junho de 2009

sábado, 30 de maio de 2009

terça-feira, 28 de abril de 2009

Quanto tempo o tempo tem?

Ela fecha os olhos. Atravessa as nuvens que suspendem os campos e ligam o chão verde brilhante ao céu cinza claro. Não consegue distinguir nada além de forma mal delineadas. Mais uns poucos passos. O mundo se abre diferente. Ele está lá. Há quanto tempo? Não importa. Ele continua igual, os mesmos olhos castanhos e doces, a barba por fazer, os braços compridos, o sorriso enorme. Estava lá. Não podia negar. Seus olhos tinham certeza. Sua mão. Sua boca.
"O que você fez hoje?" é a pergunta de sempre, enquanto os braços a envolviam e ela podia finalmente sentir a segurança de ter chegado onde precisava chegar. Ele ouve falar dos filhos, do chefe, da mãe, das brigas entre a família. Seus dedos fortes e longos penetram no cabelo dela, desmancham os cachos, denunciam sua presença, deixa seus pelos em ponta. O sorriso de todos os dentes inquebrável e eterno. O calor de seu corpo se sente por todos os poros.
Onde ele esteve por tanto tempo? Durante alguns momentos as dúvidas do passado passeiam por sua mente. Afinal por que ele havia feito aquilo? Por que se afastara sem explicação? A angústia apertava o peito, quase sente o mundo a tragar de novo, mas logo a dúvida é espantada para longe. Ele está ali, nunca saiu de verdade. Ao seu lado. Descobrindo-a. Encantando-a. O ar gelado da janela aberta lhe percorre a espinha. Sabe que está andando sobre gelo fino. Mas seus cabelos fartos e grossos. Sua boca rosada. Seu peito macio. Não poderia arriscar. Quanto tempo teria ainda?
Aconchega-se no seu peito, seu braço a envolve com carinho e determinação. Aninha-se ainda mais. O tic-tac do relógio podia se ouvido claramente agora, mistura-se com as batidas do seu coração na boca do estômago.Ela se recusa a escutar. Pouco pode ser feito. O barulho denuncia o tempo que passou.
Um último beijo. Uma última carícia. Um último olhar. O doce dos olhos, a agressividade da barba, os braços acolhedores vão sumindo na névoa que em um momento surge de repente e o abraça para longe. A lágrima escorre pelo rosto, colando os cachos desmanchados na face desfigurada.
Abre os olhos. O mundo se fecha no habitual.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A farsa

O corpo todo treme, pode sentir o estômago parado, congelante. Há quanto tempo não sentia isso? O mundo parou por um minuto. As árvores estáticas. O vento pausado. Os pássaros paralisados em pleno voo. O coração suspenso na boca do estômago. Gostava da sensação. Gostava do medo, mas não da situação. Não o conhecia. Na realidade, ela estava começando a se conhecer agora. Seu corpo. Seus próprios toques. Seus gostos. Tudo era novo para ela. Estranho depois de tanto tempo.
Adolescente chamava a atenção mais pela empáfia do que pela beleza, apesar dos olhos, não de ressaca mas amendoados e fortes, e dos cabelos, sempre soltos secos ao vento. As calças rasgadas e as camisetas surradas. Não se preocupava com isso. Teve os seus momentos entre os 15 e 18 anos, quem não é bonito aos 18 anos? Hoje sabe que talvez tenha cometido muitos erros no passado, deveria ter olhado com mais atenção, havia um gesto, um sorriso, um abraço perdido em algum período remoto que deveriam ter sido vistos, mas ganância adolescente ocultou. Quando? Ela não sabia quem era.
Mas, agora? A vida já não havia passado? Olhos carregavam as marcas do cansaço sem perder o amendoado que os deixavam um pouco doce, o cabelo cacheado desmanchou-se sozinho com o tempo e falta de cuidado. Suas roupas envelheceram antes que ela. Seu bonde da história estava há muito perdido.
O que ele poderia ver nela? As marcas da vida que escolheu? A pose de forte que ainda carregava? Não haviam mais os cachos. Não havia mais a silhueta delicada. Não havia mais a maciez da juventude.
Ele a idolatrava, ela podia ver nos olhos dele. As palavras eram escolhidas com cuidado entre os momentos de gagueira. As mãos dele, ásperas, rudes e fortes, não sabiam onde ficar enquanto a boca tentava falar algo minimamente coerente. O cenário a deixava orgulhosa e ao mesmo tempo amedrontada.
A fantasia a deixou despida no meio da rua. A farsa não poderia continuar.
Fez o que faz de melhor.
Fugiu

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Pensamos

Tenho que pensar
Como nós pensamos
Mas as palavras já entraram na minha cabeça...

Grafismos sem sentido
Perambulado
Sorrateiros
Pelo consciente

Ideogramas
Alfabetos
Trauma

Quando meu filho era pequeno era somente uma incógnita
(hoje, o que ele é?)

Quem entende o que vê?

X, Y, Z, @, α e β
Organizam o mundo
E se o organismo não se adapta entre a assimilação e a organização?

domingo, 25 de janeiro de 2009

Idade para ir ao teatro

Sempre fui apaixonada por teatro.
Me lembro da adolescente, na correria de todo adolescente que sempre acha que a vida vai terminar em 5 segundos, sem dar tempo de fazer nada, apesar de estar sempre fazendo algo, bem estava eu andando correndo pelo centro de Rio Preto e uma veraneio no meio do calçadão me chamou a atenção.
Colorida, fantasiada, maravilhosa. Meu mundo parou, junto com meus pés. Não havia mais para onde ir, o resto perdera a importância. Sentei no chão e esperei.
A peça era "Romeu e Julieta" do Grupo Galpão. Já havia lido "Romeu e Julieta", mas aquilo era diferente, aquilo era palpável, aquilo era apaixonante.
Tenho a oportunidade de morar numa cidade, que apesar de ser interior, tem um dos melhores festivais de teatro da América latina.
Sempre levei meus filhos ao FIT, lembro de levar o Igor no carrinho de bebê para assistir "A princesa Jia". No último festival, batemos o nosso recorde, assistimos a quase todas as peças infantis. Uma overdose teatral. Assistíamos a uma peça às três e outra às seis. Não escutei reclamação dos meus filhotes. Adoraram, fizeram até eleição das melhores peças!
Em janeiro agora outra maratona. "Em janeiro o teatro para criança é o maior barato", festival de teatro infantil a preços promocionais, R$ 1,99. Como não ir? Tentei levar alguns amigos dos meus filhos. Só tentei. Ouvia de suas mães o seguinte argumento: "Meu filho não gosta de teatro".
....
Como pode uma criança de 7 ou 9 anos não gostar de teatro!
...
...
Não entendo... Não tenho respostas... Não tenho palavras!